Edifícios verdes têm menor taxa de vacância
No País, uma das entidades que certificam a sustentabilidade de um empreendimento é a Green Building Council Brasil (GBC). De acordo com estudo realizado pela Geoimóvel adotado pela GBC, existem cerca de 1.379.812 m² de imóveis corporativos de alto padrão que possuem o certificado LEED em São Paulo, segundo a companhia. “O número representa 34% em relação à totalidade (4.017.353 m²) de imóveis empresariais na cidade”, afirma o CEO da GBC, Felipe Faria.
Há dez anos no Brasil, a GBC já registrou 1.230 pedidos de certificação, dos quais 423 já obtiveram o selo. “Depende da velocidade da construção do projeto e, por isso, não é um número baixo. Aliás, são muitos empreendimentos”, relata.
O processo de reconhecimento passa por quatro etapas: registro, verificação, revisão e certificação. O valor é agregado em relação ao m², segundo Faria. “Até 5 mil m², o custo é de US$ 3.500 dólares, podendo chegar até US$ 38 mil dólares, quando o máximo é 50 mil m²”, afirma.
O investimento que é feito no início do projeto da construção às vezes pode sair mais caro, bem como o valor de locação. A média apresentada da capital paulista é de R$ 104,52 (m² / mês) dos imóveis que possuem o certificado, enquanto os não-verdes custam R$ 94,52 (m² / mês). “Mas na prática, o custo para o locatário é menor porque ele tem mais benefícios, como um ar ambiente melhor, excelente aproveitamento de tecnologias e uso eficiente de água”, afirma Faria.
A única região que apresenta o valor de locação mais barato para os imóveis certificados é nos Jardins: R$ 100 (m² / mês) contra R$ 119,12 (m² / mês) para os não-verdes. “O custo é inferior por causa da quantidade de oferta de prédios reconhecidos com o LEED, além da idade desses edifícios, o que conta na hora de cobrar dos futuros locatários”, disse a responsável pela pesquisa, Denise Ghiu.
Grande parte dos locatários já entende a importância e prioriza acomodar os escritórios em edifícios sustentáveis, segundo o vice presidente da CBRE, Adriano Sartori. A empresa tem sua base instalada em um dos prédios verdes na capital paulista. “Além de colaborar com o ecossistema, são eficientes e trazem economia no final do mês e, para muitos empresários, esse é o diferencial na hora de fechar o contrato”, afirma.
O estudo mostra que os prédios certificados têm taxa de vacância 9,5% mais rápida em relação aos sem o selo verde. A especialista em edifícios corporativos e responsável pela pesquisa, Denise Ghiu, avalia os números como um diferencial competitivo importante.
Sartori declara que a sustentabilidade faz parte do padrão de operação da empresa desde 2011, quando conseguiu zerar as emissões de carbono. “A maioria dos edifícios gerenciados pela CBRE já são planejados para obter a classificação do prédio verde”, disse.
A Cyrela Commercial Properties (CCP) também está instalada em um prédio sustentável na capital paulista. Segundo o diretor-presidente, Pedro Dalto, a companhia associou-se ao Pacto Global das Nações Unidos, o qual firmou compromisso de proteção ao meio ambiente. De acordo com Dalto, a possibilidade de oferecer melhoria substancial das condições de bem-estar e de conforto dos usuários são benefícios dos prédios sustentáveis. “O imóvel verde representa uma vantagem competitiva no sentido de conseguir maior velocidade nas comercializações”, afirma. O diretor-presidente acrescenta que, na maioria dos casos, a empresa já recuperou o gasto que investiu para tornar os prédios verdes.
O CEO da GBC também chama a atenção para o fato de as taxas de condomínio serem menores nos edifícios reconhecidos. “Nos corporativos, o valor médio da taxa condominial na capital paulista é de R$ 25,70 / m², ao mesmo tempo nos que possuem o LEED é de R$ 22,80 / m².”
Prédios sustentáveis podem ser certificados pela Green Building Council Brasil, como o da foto (Rochaverá). Foto: Rafael Arbex / Estadão
Desafios. Para o professor de real state da Escola Politécnica da USP João da Rocha Lima, a lógica de fazer qualificação ambiental é ter um aumento de investimento no imóvel que deverá ser amortecido pelo abatimento de contas do condomínio ao longo dos anos de vida do prédio.
“Há muita preocupação em construir imóveis verdes pelas questões de responsabilidades sociais, ambientais e econômicas”, avalia o CEO da Forte Soluções Ambientais, Matheus Forte. Ele concorda com o professor em relação à parte financeira. “Temos a comprovação de que é mais eficiente o sustentável do que o convencional.”
No entanto, Forte reconhece que ainda há dificuldades. “O mercado ainda está em desenvolvimento para ter uma cadeia de fornecimento de materiais, de equipamentos, de tecnologia sustentáveis”, afirma.
De acordo com o professor, o problema também está nas questões contratuais. “Em alguns prédios comerciais fora do País, as taxas de condomínio são pagas pelo proprietário”, conta. “No Brasil é o contrário, mas a lógica internacional é mais simples: o locador deveria cobrar mais caro em benefício de uma despesa de condomínio menor para o locatário”, diz.
Posição. Em um ranking de 165 países, o País ocupa a quarta posição dos mais verdes. “A companhia não esperava essa colocação”, assume Faria. “Tendo em vista o momento de dificuldade política e econômica, não esperávamos continuar no quarto lugar e a manutenção foi uma surpresa para nós”.
Mesmo frente a aspectos políticos e econômicos de dificuldades, a construção verde apresentou outra realidade. “O ano de 2016 foi um dos melhores desempenhos em termos de projetos registrados.” Faria informa: “Foram 201 novos, sendo que o recorde é de 2012, quando tivemos 209 propostas”.
Primeira casa sustentável do País está localizada no bairro nobre Vila Nova Conceição, em São Paulo, e pertence ao administrador de empresas Henrique Cury. Foto: Amanda Perobelli / Estadão
Primeira casa sustentável. A ideia de construir uma moradia sustentável sempre agradou o administrador de empresas Henrique Cury, de 46 anos. “O propósito era mostrar para os meus filhos que é possível erguer uma casa e ao mesmo tempo respeitar o ecossistema”, afirma.
Morador do bairro nobre Vila Nova Conceição, localizado na zona sul de São Paulo, Cury possui o título da primeira residência certificada pelo selo CASA, dado pela Green Building Council Brasil (GBC). “Eu me sinto realizado, porque eu tinha o sonho de construir uma casa sustentável”, afirma.
Em 2014, o administrador comprou um terreno de 290 m² e nos dois anos seguintes construiu a casa, com 400 m² de área útil. No processo de construção, Cury registrou o imóvel na GBC e realizou todos requisitos impostos para conseguir o certificado. “Instalei placas solares para aquecimento de água, a fim de não haver gasto com gás; coloquei placas fotovoltaicas, as quais praticamente zeraram a minha conta de luz mensal; também inseri captação da água de chuva”, conta. Segundo Cury, toda a madeira existente no imóvel é proveniente de demolição – comprada e tratada em uma fazenda no Paraná.
De acordo com a instituição, o custo para ganhar o selo CASA para imóveis com até 600 m² pode chegar a R$ 7 mil. “Eu gastei 10% do total da minha obra. Financeiramente, eu gastei mais, obviamente, mas pelos cálculos de payback, irei recuperar o dinheiro em até três anos”, afirma Cury. “Não me arrependo de ter gastado mais, porque os benefícios são maiores. É preferível ter uma qualidade de vida melhor.”
O maior desafio da GBC é ingressar com mais força justamente no setor residencial, segundo o CEO da empresa, Felipe Faria. “O campo de moradia representa o maior volume construtivo do país e isso exige melhor organização dos canais de comunicação e aumento de nossa rede de parcerias para que isso seja possível”, afirma
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